Felicidade.

Feliz é o homem que teme ao Senhor.



Publicação:

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

COMPORTAMENTO - VERGONHA DE FAZER A COISA CERTA.

Foto: Massimiliana Beserra
Foto: Massimiliana Beserra/Jangadeiro
Um aspecto interessante do ser humano é a capacidade de sentir vergonha. O que é vergonha? É um constrangimento ou desconforto por ter feito algo que não condiz com a regra geral, ou simplesmente por destonar do grupo ao qual pertence.
Então, pode-se sentir vergonha de ter esquecido o nome de uma pessoa conhecida, como de ter sido flagrado furando a fila, de haver escrito uma palavra incorreta. Também há quem sinta vergonha de ser gordo demais, magro em excesso, grande ou pequeno a ponto de chamar atenção, diferente de todo o resto.
Há todo tipo de vergonha. Porém, uma vergonha que realmente me espanta é a de fazer a coisa certa.
Não me refiro às pessoas que são “vergonha-orientadas”. Pessoas cuja autoestima é tão baixa que sentem vergonha até de entrar numa sala de espera de um consultório médico. É como se acreditassem ser anômalos cuja deformidade o mundo inteiro percebe. Podemos chamar isso de “sentimento de inadequação”. É o caso do famoso “peixe fora d’água”. Tais indivíduos chegam ao extremo de, quando percebidos no seu constrangimento, sentirem vergonha da própria vergonha! Por isso, não adianta lhes mostrar o quanto exageram em sua rigidez auto depreciativa, pois o máximo que conseguiremos, é fazer com que sintam vergonha de serem envergonhados.
Alguém que sofre de vergonha excessiva vive uma complicação maior que as pessoas que se sentem culpadas por tudo. Pois no caso das segundas ainda existem punições compensatórias da culpa.  Porém, a situação das primeiras, nada resolve. Na sua concepção elas não erraram, pois são o próprio erro! Acompanha esta convicção o desejo de se esconderem, de serem engolidas pela terra.

Como se vê, pessoas vergonha-orientadas precisam de tratamento, e devem procurar uma terapia. Porém, o que estou falando, quando digo “vergonha de fazer a coisa certa”, é um problema talvez cultural, e não um problema psicológico.
Sentir de vergonha de dizer que não gostou da roupa que o vendedor ofereceu para experimentar, de dizer à atendente que não quer mais se consultar com aquele médico no dia e horário estipulados, de exigir um troco de apenas um real, de confessar gostar de uma música que os amigos detestam, de comunicar a um amigo que não irá ao seu casamento, de telefonar sem qualquer pretexto para alguém que achou interessante etc. Falo de coisas simples e pelas quais, sem nenhuma cerimônia, mentimos ou nos omitimos.
Como é que temos vergonha de revelar nossos reais motivos para uma ou outra decisão, e não nos envergonhamos de mentir ou de sermos displicentes?!
Por exemplo, você esqueceu de telefonar para um amigo no dia do seu aniversário. O que faz? Você pode ligar no dia seguinte e dizer: “Amigo, esqueci seu aniversário, mas hoje lembrei e quero lhe desejar tudo de bom!” Mas poderá também inventar que caiu doente, dormiu a tarde toda e quando acordou já era meia-noite, hora inapropriada para uma ligação. Ou simplesmente fará de conta que nada aconteceu, deixará o tempo passar e algum dia, quando encontrar o seu amigo, falará com ele como se nem existissem aniversários.
Se você mente ou se omite, dirá que teve vergonha de confessar que esqueceu o aniversário de seu amigo. Contudo, quem nunca esqueceu algo importante? Que mal há nisso? “Mas, o amigo pode ficar chateado”, dirá você, em defesa de sua postura inautêntica. Se ele ficar chateado, é porque ainda não se abriu para a possibilidade do erro, e se não tem abertura para falhar, que tipo de amigo é esse?
O fato é que nossa cultura incentiva a vergonha de fazer coisa certa: sermos transparentes. Estamos num mundo de muita hipocrisia onde todo mundo naturalmente falha, mas ninguém quer se reconhecer capaz de falhar. Onde somos tentados a sustentar uma máscara de perfeição. E sendo assim, nunca podemos decepcionar ninguém.
Mas a gente decepciona, e isto é normal. Diz-se que certa mãe foi perguntar a Freud o que deveria fazer para não traumatizar seu filho. E ele respondeu: “Nada. Ele será traumatizado de qualquer forma”.  Ou seja: vamos parar de querer controlar tudo, até a reação das pessoas. Deixemo-las livres para reagirem como puderem às frustrações que lhes causarmos. É um direito delas! Não esqueça: os outros têm o direito de se chatearem com você! Mas apresente aos outros quem você realmente é, assim a pessoa que eles amarem ou detestarem não será um faz de conta, mas a pura verdade.
É compreensível que se sinta vergonha de falhar, mas de reconhecer a falha e tentar corrigi-la, não. Temos que nos orgulhar de sermos nós mesmos, pessoas falíveis, ou, nos remetendo a Nietzsche, somente “humanos, demasiadamente humanos”. E que atire a primeira pedra quem estiver sem pecado!
(por Caroline Treigher).

Fonte: Jangadeiro Online.

Nenhum comentário:

Postar um comentário