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segunda-feira, 5 de outubro de 2015

LITERATURA - A HERANÇA LENDÁRIA DE ALENCAR

Foto: Divulgação
Em 2015, "Iracema", clássico da literatura nacional escrito pelo autor cearense, comemora os 150 anos. A importância da obra segue "inquestionável" para pesquisadores e escritores brasileiros.
Quando anunciou os verdes mares bravios de sua terra natal, na primeira linha do que viria a ser um símbolo da literatura romântica brasileira, o escritor cearense José de Alencar promoveu uma série de encontros de poesia e linguagem que, ainda hoje - 150 anos depois da primeira publicação de "Iracema" - seguem como referência para pesquisadores e escritores nacionais. Mas não só. Também orientam, mesmo que inconscientemente, a história de um povo cuja formação da identidade está representada em cada trecho da prosa poética da "lenda do Ceará".

"Eu tenho a pretensão de considerar 'Iracema' a obra-prima de Alencar. Com ela, ele chegou ao máximo da sua criatividade, da sua capacidade como escritor e como poeta até", destaca o professor Sânzio de Azevedo, membro da Academia Cearense de Letras (ACL) e uma referência incontornável para estudiosos da literatura cearense.
A narrativa épico-lírica ganha fôlego com o amor proibido da índia tabajara Iracema e do guerreiro branco português Martim Soares Moreno. Do encontro entre os dois, nasce Moacir, o "primeiro cearense", numa clara referência de Alencar ao processo de miscigenação que aconteceu na América, na época da colonização europeia.
Destaques
As contribuições estético-literárias do livro são colocadas em relevo por alguns pesquisadores da área. Marcelo Pellogio, professor adjunto do Departamento de Literatura da Universidade Federal do Ceará (UFC), que tem uma pesquisa voltada para a obra de José de Alencar, levanta dois pontos importantes nesse sentido.
"Em primeiro lugar, a atmosfera lendária do livro, que em razão da sua carga lírica intensa (tudo no romance respira poesia), como que transforma (ou pelo menos ameniza) o 'argumento histórico' que liga a obra à realidade brasileira do período colonial. Em segundo lugar, o ritmo de sua linguagem e seus inúmeros símiles, o que leva a efeito o primeiro ponto aqui destacado", explica.
Para Peloggio, o lirismo de "Iracema" transcende as coordenadas de tempo e espaço constituindo, desse modo, uma textura universal. "Neste ponto, a obra carece de comparação com outras, podendo mesmo dizer, tal como ressalta o crítico literário Cavalcanti Proença, que o romance alencarino contribuiu para a transformação da linguagem literária brasileira", admite.
Outro que reconhece o potencial da obra é o escritor e jornalista cearense Lira Neto, responsável pela biografia de José de Alencar, intitulada "O inimigo do rei". "Iracema é um marco fundamental no projeto nacionalista a que José de Alencar se dedicou durante toda a sua trajetória de intelectual e romancista", define.
Lira também rebate algumas críticas que foram feitas à época da publicação sobre a linguagem utilizada e os elementos ficcionais do romance. Críticas estas que também foram respondidas pelo próprio autor de "Iracema" em um posfácio na segunda edição. "Alencar não estava escrevendo um documentário, um relatório geofísico da paisagem cearense. Estava fazendo literatura, trabalhando com metáforas, forjando simbologias", argumenta o biógrafo.
Importância
Questionados sobre a relevância da leitura do livro pelas novas gerações, os estudiosos não hesitam. "O que me parece é que 'Iracema' é como 'Os Lusíadas', de Camões. Obra que ficou. Não tem como não lembrar dela", reforça Sânzio de Azevedo.
Aumenta o coro Marcelo Pellogio, ressaltando os ensinamentos estéticos e históricos da publicação. "Estético, em razão de seu lirismo, imagens, ritmo, ordenação estrutural; histórico, porque no livro é então destacado, ainda que alguns não concordem, o embate civilizatório na origem de nossa formação como povo e sociedade. Daí a importância do romance para as gerações de agora e as futuras", diz.
Já Lira Neto salienta que os mais novos precisam ser apresentados ao romance com a necessária contextualização, explicando-se aos jovens leitores os propósitos originais da obra, sua história e pioneirismo. "Não se deve simplesmente empurrar este ou qualquer outro livro goela abaixo de adolescentes, cobrando-se leituras esquemáticas e meros preenchimentos das tão famigeradas fichas de leitura. Isso só os afastará ainda mais do deleite de ter acesso a um livro emocionante e profundamente belo", conclui.
O sesquicentenário de "Iracema" foi tema de uma reportagem especial, publicada na edição mais recente da revista Gente, do Diário do Nordeste.

Fonte: Diário do Nordeste

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