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segunda-feira, 11 de março de 2013

SAÚDE - DEPRESSÃO: O SOFRIMENTO E A BUSCA PELO SENTIDO DA VIDA.

Foto Ilustrativa.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão é a segunda maior causa de incapacidade no mundo.

Caracterizada pela tristeza constante e falta de prazer em quase todas as atividades, a depressão é um dos transtornos mentais mais comuns e atinge cerca de 10% da população. Outros sintomas também denunciam a doença, como: alteração no apetite, inconstância do sono (insônia ou sonolência), perda de energia e sentimento de impotência ou culpa, além de, em casos mais graves, pensamentos sobre suicídio, chegando a tentativas concretas.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão é a segunda maior causa de incapacidade no mundo, perdendo somente para as doenças cardiovasculares. As causas são várias, podendo ser variantes de alterações em neurotransmissores (células do cérebro), de fatores genéticos, de traços de personalidade e de fatores ambientais.
Depoimento
Tudo seria mais fácil se, aos 22 anos, Pedro (nome fictício) encontrasse o lado bom da vida. Em 2010, o jovem foi diagnosticado com depressão moderada e, a partir daí, vivenciou uma ruptura em sua vida.
O estudante ingressou em uma universidade, no curso tão desejado, em 2009, mas no primeiro ano desistiu da sonhada profissão. Nem os novos amigos, as novas experiências e as novas responsabilidades foram atraentes o suficiente para barrar a decepção com o curso. A partir daí, o mundo de fantasias de que a vida sempre seria do jeito que queria se quebrou e a realidade o puxou para o lado mais negro.
Em 2010, Pedro voltou a estudar Física e Matemática, em um cursinho pré-vestibular. “Eu vi que muitas certezas da vida foram por água abaixo. Comecei um processo de orientação profissional pra descobrir o que queria ser, uma orientação com a psicóloga. Foram três meses de processo. Depois que o processo acabou ela avisou que eu não estava bem e me indicou a fazer terapia”, relembrou.
No mês de maio daquele ano, Pedro iniciou a terapia. “Perdi vontade de sair de casa, sentia um vazio, acho que isso que define. Uma coisa que suga, que não dá vontade de fazer nada, como se não tivesse nada que te fizesse bem. Fiquei semanas sem ir para o cursinho, porque não queria encarar o mundo. Senti um desespero, uma dor existencial”, desabafou.
Preconceito
Foi quando a terapeuta avisou que ele passava por um processo de depressão. “Aí é que surge o preconceito de você se aceitar como doente. Demorei muito tempo para aceitar que deveria para ir ao médico, uns dois meses. Tem preconceito dos pais, que até hoje meu pai não aceita, já a minha mãe aceitou há uns seis meses”, contou.
Mesmo com a luta diária para se aceitar, Pedro consultou um psiquiatra indicado. Após uma conversa, o paciente foi diagnosticado com depressão moderada, tendo que ser medicado e fazer terapia. Pedro contou que demorou um tempo para tomar os dois remédios receitados.
Somente em dezembro de 2010 veio a melhora. As mudanças pessoais e profissionais fizeram do jovem uma pessoa nova. “Foi aí que as coisas realmente aconteceram na minha vida. Você começa a se sentir feliz, você começa a enxergar a beleza em coisas simples, como o nascer sol. É um processo depressivo e tem recaídas, mas tem que tentar viver com isso. Depende muito da emoção que tu sente, é muito difícil, depende do que causou, como está o ambiente no exterior”, refletiu.
Palavra clínica
O psiquiatra Fábio Gomes de Matos e Souza, que também é professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), salientou, em entrevista ao Tribuna do Ceará, que a depressão não é tristeza. “Tristeza é uma emoção normal ao contrário da depressão que é patológica”, disse.
Sobre os sintomas, Fábio Gomes afirmou que podem ser classificados de diversas maneiras como cognitivos (baixa autoestima, visão pessimista do futuro, percepção de que é inútil e sem valor entre outros) e biológicos (alterações no sono, desânimo, alterações no apetite e peso, alterações na libido entre outros).
Outra maneira de classificar os sintomas de depressão, segundo o psiquiatra, é dividindo-os em:
a) principais:
1. anedonia – falta prazer em quase tudo, a pessoa antes gostava de varias atividades e quando está deprimida nada tem interesse;
2. humor deprimido – futuro é visto como ruim, crises de choro.
b) secundários:
1. alterações no sono, sexo e apetite, desânimo, sentimento de culpa e ate desejo de morrer”, explicou.
Segundo o psiquiatra, o diagnóstico é clínico, ou seja, é baseado no que a pessoa apresenta como sintomas. “Ainda não temos um diagnóstico genético, laboratorial ou realizado por imagens. Deve-se lembrar que a depressão poder ser parte do transtorno bipolar e um histórico de excessos na vida do paciente deve ser pesquisado. A depressão pode também existir de forma mascarada através de dores generalizadas pelo corpo sem haver um quadro clínico de depressão”, ressaltou.
Riscos e tratamento
Tendo o suicídio como o maior risco, a depressão pode não atingir somente o paciente, mas os familiares. “A depressão tem um componente genético bastante elevado. Assim os familiares de pessoas deprimidas tem um risco maior de ter também depressão”, explicou.
Fábio Gomes ainda ressaltou que o tratamento da doença envolve a farmacoterapia (a prescrição de antidepressivos), a psicoterapia e alterações no ritmo de vida do paciente (redução de estresse, sono regular, evitar sobremaneira a ingestão de bebidas alcoólicas). “Vale ressaltar que familiares e amigos podem dar uma contribuição muito importante permitindo o estreitamento de vínculos que fornecem um suporte social”, avisou.
Cura?
Quando questionada se há uma cura para a doença, o psiquiatra é claro. “Neste momento da medicina, só podemos falar em cura nas seguintes situações: em algumas doenças infecciosas, onde o agente causador da enfermidade é aniquilado ou em casos cirúrgicos que a parte doente é retirada da pessoa. Todas as outras doenças crônicas como diabetes, hipertensão ou depressão não têm cura, no sentido em que a pessoa nunca mais terá outro episódio de depressão, mas tem tratamento eficaz que extingue os sintomas e evita que novos episódios surjam. Portanto, o melhor para o paciente deprimido é procurar um profissional da área para tratar da crise atual e evitar novas crises”, finaliza.
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Fonte: Tribuna do Ceará/Jangadeiro.

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