Foto: Natacha Pisarenko/AP/ O Globo. |
A história
foi registrada no livro “O Silêncio”. As vítimas - Francisco Jalics e Orlando
Yorio, que desapareceram por cinco meses - eram companheiros de Bergoglio na
Companhia de Jesus, cuja congregação fazia trabalhos de ajuda social numa
localidade do bairro de Bajo Flores. Os defensores de Bergoglio dizem que não
há provas contra ele e que o Papa ajudou muitos a escapar das Forças Armadas
durante os anos de chumbo.
Na última
década, sinais mais claros das possíveis participações do novo Papa na ditadura
começaram a aparecer na imprensa argentina. Mas foi em 2005, quando o
jornalista Horacio Verbitsky acusou o então arcebispo de ter contribuído para a
detenção, em 1976, de dois sacerdotes que trabalhavam sob seu comando na Companhia
de Jesus, que as suspeitas ganharam força.
Em
entrevista ao GLOBO, Estela de la Cuadra, que até hoje procura sua
sobrinha, Ana, nascida na mesa de uma delegacia em junho de 1977, assegurou que
“a Igreja Católica escolheu uma pessoa que para nós, familiares de vítimas da
repressão exercida pelos militares, foi cúmplice de um governo genocida”.
A
indignação de Graciela e Estele reflete, em grande medida, o clima que se viveu
nesta quarta-feira em associações de defesa dos direitos humanos da Argentina.
Nas sedes das Mães e Avós da Praça de Maio, entre outras ONGs locais, seus
representantes receberam com surpresa e estupor o nome do novo Papa. Para este
setor da sociedade argentina, acompanhado nas redes sociais por dirigentes
esquerdistas, a escolha de Bergoglio foi difícil de digerir.
- Até
hoje, a Igreja continua sem colaborar com as investigações da Justiça.
Bergoglio nunca quis abrir os arquivos da Conferência Episcopal - lamentou
Graciela.
De acordo
com o livro de Verbitsky, o Papa Francisco retirou o apoio da ordem aos
jesuítas perseguidos pelo governo militar em 1976. Após a fim do apoio, ambos
acabaram sendo capturados e presos. Em 2011, Verbistky descobriu um documento
do Ministério das Relações Exteriores e Culto da Argentina que confirma a
suspeita. Na época, Jalics, húngaro, havia feito um pedido de renovação de
passaporte. O informe mostra que Bergoglio apontou que havia “suspeitas de
contato com guerrilheiros” e “conflitos de obediência”. A solicitação do
jesuíta foi negada.
Bergoglio
aceitou falar com o jornalista durante a preparação do livro, mas negou que
tenha colaborado com a ditadura. Segundo Bergoglio, ele agiu para tentar salvar
os sacerdotes enquanto estavam presos na Escola de Mecânica da Armada, local de
extermínio do regime militar.
Em 2010, o
então cardeal publicou o livro “O jesuíta” em que defendia seu desempenho na
Companhia de Jesus entre 1973 e 1979. No livro, Bergoglio diz que Yorio e
Jalics estavam planejando a criação de uma uma congregação religiosa e
entregaram o primeiro rascunho do documento a três monsenhores. O religioso
também teria recebido uma cópia.
As
denúncias iniciais da participação do Papa na ditadura foram feitas por Emilio
Mignone, em seu livro “Igreja e ditadura”, de 1986, quando Bergoglio não era
conhecido fora do mundo eclesiástico. Mignone exemplificou a “sinistra
cumplicidade” com os militares numa operação militar em que desapareceram
quatro catequistas e dois de seus maridos. Segundo o livro do fundador do
Centro de Estudos Legais e Sociais, sua filha, Mónica Candelaria Mignone, e a
presidente das Mães da Praça de Maio, Martha Ocampo de Vázquez, nunca mais
foram encontradas.
Fonte:
O Globo.
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