Foto: Fábio Lima/O Povo. |
Enviada a Reriutaba
Há uma medicina feita de olhos observadores, ouvidos atentos e solidariedade. É uma prática que consegue transpor distâncias e idiomas e simplesmente acontece. Movidos por ela, 28 profissionais estrangeiros chegaram, esta semana, a 12 cidades do Interior. Participantes do programa Mais Médicos estão em municípios para onde nenhum profissional graduado no Brasil quis ir. Dois deles desembarcaram no sábado em Reriutaba, a 309 km de Fortaleza. O casal Isidro Rosales Castro, 48, e Esperanza Anabel Dans León, 48, deixou Cuba com a vontade de transformar realidades com a saúde. Ontem, começaram a conhecer o motivo que os trouxe ao Ceará.
Na casa que não via médico “desde outubro, na época da política”, Isidro se uniu à técnica de enfermagem Tereza Agapito e à enfermeira Kaline Monteiro, integrantes da equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF) e cuidou. Como Manoel Abreu, 68, operou-se recentemente, recebeu a atenção do médico em casa. “Adorei”, resumiu Aldenira Abreu, 72, esposa de Manoel. A família já é acompanhada pela equipe responsável pelo sítio Passagem Larga, distrito de Mufumbal. Mas a presença do médico animou a dona de casa. Para ela, o português ainda confuso do “doutor” não foi empecilho para compreender as indicações.
Ainda sem o registro profissional, que deve ser concedido somente hoje, Anabel apenas acompanhou o marido nas visitas a Mufumbal – a pedido do O POVO. A médica acabou fazendo amizade com as primas Edna, 7, e Karina, 6, que moram na comunidade Quandu, enquanto o marido examinava o primo delas, Wesley, de seis dias. A mãe de Karina, Adélia Viana, 36, espera mudanças com a chegada do profissional. “A saúde vai melhorar e muito”.
Isidro e Anabel definem a vinda ao Brasil como mais uma missão. O casal se conheceu na Guatemala, em 2002, quando ambos prestavam ajuda humanitária ao país. De lá, partiram para a Venezuela, onde foram mais 10 anos de medicina-missão. Em 2010, voltaram para Cuba. Foram atraídos para o Mais Médicos pelas propagandas na imprensa cubana. Vieram. Fazem isso porque aprenderam que assim deve ser – devem trabalhar “diretamente com a população”. “Os médicos cubanos sempre se formam para aplicar a medicina gratuita”, diz Isidro.
Por isso, o sistema de pagamento aos profissionais cubanos não o incomoda. Eles foram contratados por um acordo entre a Organização Pan-americana da Saúde (Opas) e Cuba. A Opas repassa as quantias recebidas do Ministério da Saúde brasileiro ao governo cubano, que pagará os médicos. Eles não recebem os R$ 10 mil pagos aos outros. “O dinheiro é importante, mas não é necessário sempre”, diz o médico.
Para ele, o brasileiro quer “mais saúde, mais desenvolvimento” e eles estão aqui para contribuir. “Vimos pessoas com desejo de ter médico”, define Isidro. O que se buscará nos trabalhos em Reriutaba, diz Anabel, é uma cultura de saúde e prevenção. Ela fica, a partir de hoje, responsável por uma unidade de saúde na sede de Reriutaba. “Para nós, prevenir é muito mais importante que curar. E isso é uma mudança de cultura com o tempo”, comenta.
Sobre não passarem pelo exame de revalidação do diploma médico, o Revalida, os médicos dizem que todo o tempo serão avaliados – inclusive pela população. “O conhecimento se vai ver na prática. Nós estamos onde nos necessitam. Somos escravos da saúde. Por ela, fazemos qualquer coisa”, ensina o médico cubano.
(Mariana Lazari)
Fonte: Jornal O Povo.
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