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Iguatu - Está em andamento no Ceará a definição de moderna metodologia de modelagem de avaliação da qualidade da água nos reservatórios do Interior. Os novos parâmetros foram apresentados recentemente no auditório do Palácio das Águas para os dirigentes de três instituições envolvidas no projeto: Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) e a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh).
A pesquisa foi realizada no âmbito do Projeto de Apoio ao Crescimento Econômico com Redução das Desigualdades e Sustentabilidade Ambiental do Estado do Ceará - Programa para Resultados (PforR Ceará) a partir de financiamento entre o Banco Mundial (Bird) e o Estado do Ceará. Três reservatórios foram selecionados para a implantação do projeto piloto: Acarape do Meio (no município de Redenção), Araras (em Varjota) e Olho D'água (em Várzea Alegre).
Há uma importância elevada de se acompanhar a qualidade da água dos reservatórios, afinal ela é fornecida para as empresas (Cagece e Saae) que tratam e fazem a distribuição para os consumidores nas cidades. É a água dos açudes, provenientes de riachos e rios, que chega às torneiras das casas em estado potável.
No Ceará, a Funceme identificou 28.195 açudes e lagoas por meio de fotos de satélite, georreferenciadas, com base em 2013. Esse é o levantamento mais minucioso que inclui reservatórios pequenos acima de 0,3 hectare (3.300 metros quadrados). Os dados servem de base para apoiar a gestão hídrica estadual.
A Cogerh faz o monitoramento diário de 153 açudes de pequeno, médio e grande portes. A existência de mais de 28 mil açudes e lagos demonstra o esforço de formação de reserva d´água no Interior por iniciativas próprias de produtores rurais e dos municípios, através de financiamento em bancos oficiais e recursos públicos para programa de construção de reservatórios.
O total elevado de açudes reflete na busca pela sobrevivência e viabilidade de atividades agropecuárias no sertão. Entretanto, é preciso observar a qualidade dos espelhos d'água. "O objetivo desse mais recente estudo é criar uma metodologia para avaliação e simulação da qualidade da água nos reservatórios cearenses, testada e adaptada à condição semiárida", observa o presidente da Funceme, Eduardo Sávio Martins.
A modelagem de qualidade de água é uma importante ferramenta de apoio ao gerenciamento dos recursos hídricos. Dentre outros aspectos, merece especial destaque por possibilitar a geração de cenários futuros e de conhecimentos que orientem a formulação de políticas públicas. "O trabalho de campo do projeto piloto nos três açudes já foi concluído e agora está em fase de conclusão", observou o pesquisador de hidrologia da Funceme, Valdenor Nilo Júnior.
O projeto dará ao Estado uma nova ferramenta, que vai além da verificação do estado trófico dos espelhos de água. "Temos necessidade dessa modelagem, com vários parâmetros, para se conhecer melhor, prevê situações da qualidade da água mediante o aumento ou queda do nível do reservatório".
O projeto observa as peculiaridades das bacias hidrográficas no Semiárido de forma adaptável de modelos já existentes para clima temperado. "No trabalho de campo que durou quase dois anos, foram observados vários parâmetros para calibrar o modelo a ser definido", explicou Nilo. "Observa-se a concentração de elementos químicos, as causas naturais (carreamento de solo, vegetação) e outros dados".
Trimestralmente, a Cogerh faz a análise da qualidade da água dos reservatórios monitorados para definição do estado trófico. "Essa nova modelagem vai complementar, somar, ao trabalho já existente. Está em fase final de apresentação do relatório". O trabalho é realizado por um consórcio de duas empresas contratadas pelo Estado.
Os reservatórios onde foi realizado o trabalho de campo não foram definidos de forma aleatória, mas observaram-se a localização, o regime hidrológico, o uso e o tamanho. "Cada um tem suas características, suas atividades e seu desenvolvimento", disse Nílo Júnior.
Os dados mais recentes de análise da qualidade da água realizada pela Cogerh são de novembro de 2016. O relatório aponta que a maior parte dos reservatórios está afetada pelo fenômeno da eutrofização, com aumento de 79,0% para 82,7% da quantidade de corpos hídricos com elevado nível de nutrição (eutrofizados e hipereutrofizados).
Na última pesquisa, foram observados 110 açudes, pois 43 estavam secos. A Cogerh faz o monitoramento de 153 reservatórios distribuídos em 12 bacias hidrográficas. Observa-se que 29% apresentavam níveis elevados, estavam em estado de hipereutrófico e 53,6% em nível eutrófico. As amostras coletadas são de água bruta, que precisa passar por tratamento específico para torná-la adequada ao abastecimento humano. "É uma preocupação para todos nós o processo de eutrofização dos açudes, a presença de nutrientes, nitrato, fosfato, que aliado ao clima quente, torna-se um fator preponderante para perda da qualidade da água", explicou .
A partir da nova modelagem, a tendência é de aumento do monitoramento e de melhoria do nível de conhecimento dos sistemas, segundo observa Nilo o. A perda de qualidade da água que é fornecida pela Cogerh para a Cagece e para o SAAE é preocupante.
Na atual quadra invernosa, até o momento, não houve significativas recargas nos grandes reservatórios. A queda de volume dos açudes piora a qualidade da água. Atualmente, o nível médio é de cerca de 10%.
Dos 110 açudes analisados, 32 apresentam nível de qualidade em estado hipereutrófico. Isso significa, segundo classificação da Agência Nacional de Água, que a reserva foi afetada significativamente pelas elevadas concentrações de matéria orgânica e nutrientes, com comprometimento acentuado nos seus usos, associado a episódios florações de algas ou mortandades de peixes. Dessa forma, há consequências indesejáveis para seu uso.
No estado eutrófico, estão nada menos que 59 reservatórios. A água apresenta redução da transparência, em geral ocasionada por atividades antrópicas, nos quais ocorrem alterações indesejáveis na qualidade decorrentes do aumento da concentração de nutrientes e interferências nos seus múltiplos usos.
Dezesseis reservatórios estão no nível mesotrófico, que significa água com produtividade intermediária, com possíveis implicações sobre a qualidade, mas em níveis aceitáveis, na maioria dos casos. Apenas três apresentam estado oligotrófico, ou seja, estão com água em boa qualidade.
Filtragem
Para chegar às torneiras dos consumidores, a água passa por um processo de filtragem e tratamento químico cada vez mais caro e reforçado, com alto custo que varia, mas às vezes chega a ser cinco vezes maior.
Depois de cinco anos seguidos de chuvas abaixo da média, a água acumulada nos reservatórios piorou em qualidade. Na atual quadra invernosa, a água nova, oriunda das últimas chuvas, que chega aos reservatórios, também transporta nutrientes, elementos químicos, esgotos, vegetação para o interior do espelho d'água. Tudo isso exige das empresas maior esforço, controle no tratamento e monitoramento. Os dois maiores reservatórios do Ceará, Orós e Castanhão, apresentam níveis intermediários, de qualidade eutrófica, segundo o levantamento mais recente da Cogerh.
A superintendente de Controle e Qualidade da Cagece, Neuma Albuquerque, defende a aplicação de medidas preventivas e de mitigação. "Há muita coisa para se fazer. Se a água já está ruim, a implantação ou persistência de piscicultura intensiva piora a qualidade".
Número
59
Açudes se encontram no estado eutrófico, no qual a água tem redução da transparência, em geral ocasionada por atividades antrópicas
(por Honório Barbosa – Colaborador)
http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/regional/qualidade-da-agua-sera-avaliada-por-nova-tecnologia-1.1734414
Fonte: Diário do Nordeste
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