Foto: Marcelo Júnior/DN |
Itapipoca. O agricultor aposentado Gracildo de Lima não vê uma gota d'água sair das torneiras de sua casa há quase uma semana. Ele é morador do Bairro Maranhão, na periferia de Itapipoca, Município da Região Norte do Estado do Ceará. Gracildo reclama que a falta de oferta de água nunca foi novidade na área, e que a solução tem sido comprar toda semana. O galão com 200 litros custa R$ 10.00. Como a família tem quatro pessoas, é necessário desembolsar, por semana, cerca de R$ 50 para dar conta dos afazeres domésticos, além do consumo.
Pouca pressão
Segundo o agricultor, o problema tem se repetido ao longo dos anos, pois o atendimento nunca foi regular. "Quando a água chega, lá pelas 10 da noite, todo mundo aqui em casa aproveita para encher tudo que é vasilha, pois a pressão é muito pouca, e, mesmo assim, não dura a madrugada toda. Esse bairro sempre sofreu com a falta de água. Como nesses últimos dias não têm saído nada das torneiras, o jeito é comprar", disse.
Lúcia Barbosa diz que já ficou por cerca de um mês sem água. Na casa da aposentada moram oito pessoas, e os gastos também têm sido altos para manter os vasilhames sempre cheios. Além de comprar água, ela recorre à boa e velha bica, instalada no telhado, para aproveitar a água da chuva. "Se não fosse isso, não sei nem o que seria de nós. Graças a Deus tem chovido, só assim a gente tem conseguido manter tudo cheio", afirmou.
Rompimento
Segundo a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), o motivo da falta de água, que atingiu os moradores dos bairros Maranhão, Julho I e Julho II, e o distrito de Contendas, foi, na última sexta-feira, mais um rompimento da tubulação, que leva água ao Município, por meio de adutora instalada na barragem Gameleira. O conserto foi realizado no último domingo, num trecho da CE-085, por uma equipe da Companhia. Mesmo assim, a regular oferta de água só será possível, daqui a cinco dias.
Problemas de rompimento na tubulação da adutora de Gameleira, obra orçada em R$ 18 milhões, e de responsabilidade da Superintendência de Obras Hídricas (Sohidra), têm sido constantes, antes mesmo de sua inauguração. A proposta da barragem, construída para trabalhar com capacidade de 52.642,000m³, era solucionar a questão das sucessivas faltas de água no Município, além de favorecer o aproveitamento hídrico em zonas agrícolas da região. Mas, de acordo com as famílias, o problema persiste, e estaria longe de ser solucionado.
Inquérito
Em dezembro de 2013, quando o sistema passava por testes operacionais, iniciados no dia seis daquele ano, em menos de 24 horas, houve três vazamentos na tubulação, que tem cerca de 30 quilômetros.
Mesmo com o trabalho emergencial, o abastecimento foi bastante comprometido, o que teria chamado a atenção do então governador Cid Gomes, que esteve no local para acompanhar as obras de perto. Cid pediu a abertura de um inquérito para apurar as causas da falta de água, além de monitorar, ele mesmo, os reparos. O seu mergulho, na ocasião, fez muito sucesso nas redes sociais.
Ajuda federal
Naquele ano, o transtorno da falta de água em Itapipoca levou o prefeito Dagmauro Moreira (PT) a pedir apoio ao Governo Federal, que enviou ao município, por meio do Ministério da Integração Nacional, segundo o prefeito, 25 carros-pipa para abastecer a Cidade durante o período de reparos na adutora que ficou sem funcionamento. E, mesmo com o conserto, bem além do período planejado, o abastecimento voltou de forma racionada.
Ajuda do céu
A dona de casa Erilene Corpes, moradora do Bairro Julho II, é outra que sente na pele, o que é não ter água frequentemente para realizar tarefas básicas, como lavar a louça do almoço, por exemplo. Erilene tem amargado dias de total falta de água. A família, de seis pessoas, tem vivido longos intervalos, entre o momento em que a água chega e quando vai embora.
Como outros moradores de Itapipoca, a dona de casa, além de comprar água quando pode, também a acondiciona em todo o tipo de vasilhas, em baixo da calha instalada ao lado do telhado. "O que tem socorrido a gente, mesmo, é a água da chuva, por conta do inverno que chegou. Graças a Deus que, aos poucos, a gente vai enchendo tudo. Espero que continue assim por mais alguns meses, mesmo com a previsão da Funceme dizendo o contrário", afirmou Erilene.
Marcelino Júnior
Colaborador.
Fonte: Diário do Nordeste
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