Foto: Ottony Stayler/DN |
Crateús. A crise hídrica que afeta vários municípios do Interior do Ceará vem se agravando nesta cidade, na região dos Sertões de Crateús, uma das mais afetadas com a seca no Estado. A população enfrenta rodízio de dois dias sem água. Há risco de colapso para os próximos dias, caso a obra da adutora do Açude Araras, no município de Varjota, distante 150km, não seja concluída. A obra está atrasada e deveria ter sido concluída em dezembro passado.
Em um esforço contra o tempo, um conjunto de ações de iniciativa da Prefeitura está em andamento para reduzir o impacto do desabastecimento: perfuração emergencial de cinco poços profundos na área urbana, instalação de dessalinizadores e de reservatórios plásticos nos bairros para funcionar como chafarizes, reativação de antigos cacimbões e ampliação do número de caminhões pipa.
O Município está na iminência de colapso no sistema de abastecimento d'água. A população local vive a expectativa de transferência de água do Açude Araras. O funcionamento da adutora está previsto para o próximo dia 20. Além de Crateús, a obra vai beneficiar a cidade de Novas Russas.
A obra de transferência de água é apontada como a salvação do abastecimento da Cidade. "A nossa luta é diária para fornecer água para a população e vivemos a expectativa do teste da adutora previsto para a próxima sexta-feira, dia 13", disse o secretário de Recursos Hídricos, Carlos Alves Bezerra. "A população tem compreendido a situação e nos apoiado. Alguns cederam cacimbões para abastecer os caminhões pipa".
A escassez de água em Crateús agravou-se nos últimos três meses. O escritório local da Cagece implantou, no mês passado, um rodízio com fornecimento de água em um dia e dois sem abastecimento. Os moradores dos bairros nas áreas elevadas são os mais afetados. "Está um sufoco e às vezes a gente passa três dias sem ter água", contou a dona de casa, Maria Oliveira. "O nosso temor é a situação piorar". O açude Carnaubal e a Barragem do Batalhão que abasteciam a área urbana secaram. "Nos últimos dias foram perfurados poços rasos no leito desses reservatórios em um esforço para manter parcialmente o abastecimento", disse o chefe de Gabinete da Prefeitura, Vanderlei Marques.
"O município comprou uma máquina perfuratriz e solicitamos outra da Sohidra para perfuração de mais poços profundos na sede urbana".
Outra ação, de acordo com Marques, foi a colocação de dezenas de reservatórios em pontos estratégicos nos bairros da Cidade. Essas caixas são abastecidas por caminhões pipa. A população faz filas e leva a água em baldes para casa. A antiga cena de latas de água na cabeça agora é rotina nas ruas da periferia e das regiões elevadas. Dois dessalinizadores e três antigos chafarizes foram reativados. Aguardar um pouco de água nas torneiras, encher baldes e tambores são práticas diárias agora de boa parte dos moradores, além da preocupação com a escassez. A secretaria de Saúde coletou água de poços e fez análise para verificar a qualidade da água para o consumo. Quando é imprópria, a população é comunicada e o uso pode ser direcionado para os serviços de limpeza. "Estamos fazendo todas as ações possíveis", diz o prefeito, Mauro Soares.
Colapso
Nos anos de 1980 e 1981, Crateús assistiu ao colapso no abastecimento e uma das alternativas encontradas na época foi o transporte de água em vagões de trem a partir da cidade de Sobral. "Era uma situação difícil, os açudes secaram e o jeito foi trazer água de longe. Quando o trem chegava formavam-se longas filas de pessoas desesperadas por água. Os caminhões pipa retiravam a água dos vagões e distribuíam na zona rural", contou o agrônomo Antonio Pereira de Souza, que trabalhava no Projeto Sertanejo e estava cedido à Ematerce, na época.
Honório Barbosa
Colaborador.
Fonte: Diário do Nordeste
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