Foto: José Leomar/DN |
Pacientes em situação de emergência vindos de vários pontos do Estado encontraram as portas do Hospital Geral de Fortaleza (HGF) fechadas durante o dia de ontem e tiveram que buscar outras instituições de saúde na Capital. A direção do HGF decidiu, na tarde da última segunda-feira (12), não receber mais enfermos durante o período de 48 horas devido à superlotação da unidade. Segundo o Hospital, os atendimentos agendados continuam normalmente.
Acompanhado do irmão e da cunhada, o paciente João Pereira Filho, 67, foi trazido numa ambulância de Madalena, a 184 Km de Fortaleza, após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e ser diagnosticado com um coágulo na cabeça e hemorragia. Ao chegarem na entrada da emergência, tiveram que voltar. A ambulância deixou o local sem saber ao certo aonde ir.
Uma outra paciente idosa, que preferiu não se identificar, vinda de Pentecoste, a 91 Km de Fortaleza, passou por situação parecida. De acordo com a auxiliar de enfermagem que a acompanhava, ela teve um AVC e precisava de atendimento imediatamente. Mesmo com os apelos, a paciente não foi recebida na unidade. "A referência de hospital é aqui. Como a gente faz?", questionou a acompanhante. A ambulância foi encaminhada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Praia do Futuro.
Até uma mulher em trabalho de parto foi rejeitada. O marido não sabia o que fazer. Um funcionário disse que o caso dela nem sequer chegou a ser considerado pela equipe responsável.
"Isso é um absurdo. Um hospital deste porte não deveria fazer isso. Mandar os pacientes voltar é um absurdo", reclamou a dona de casa Celiene Guerra, que acompanhava o filho para um exame de rotina no hospital.
Em nota, o HGF confirmou que recebeu, nos últimos três dias, uma demanda além da capacidade, chegando a ter 64 pacientes internados na Emergência. Segundo o hospital, na manhã de ontem, alguns pacientes já haviam sido transferidos para os outros quatro hospitais de apoio (Waldemar de Alcântara, Fernandes Távora e Hospital da Polícia Militar, além da Santa Casa de Misericórdia).
Na noite de ontem, conforme a assessoria da unidade, o número de internados na emergência excedia em 29 a capacidade do local. A expectativa é que o Hospital volte a abrir as portas na manhã de hoje para pacientes graves e de alta complexidade.
Capacidade
O ofício assinado na terça-feira pelo diretor geral do HGF, Zózimo Luís de Medeiros Silva, afirmava que havia 56 pacientes internados na última segunda-feira, número além da capacidade do HGF, que não possui pontos de oxigênio, macas hospitalares e equipes para atendimento suficientes para a alta demanda.
A Secretaria da Saúde do Estado informou, em nota, que o Governo investe em obras de descentralização dos atendimentos para garantir a assistência à população. Dentre os trabalhos citados pelo órgão, estão a construção do Hospital do Sertão Central, em Quixeramobim, e do Hospital do Vale do Jaguaribe.
A Secretaria atribui a lotação no hospital à "epidemia da violência" no Estado e à grande quantidade de casos de AVC, cujo tratamento oferecido no HGF é referência no Ceará.
Cresce a demanda na Santa Casa
A suspensão das atividades no setor de Emergência do Hospital Geral de Fortaleza (HGF) por 48 horas ocasionou um aumento de demanda e sobrecarga em outras unidades de saúde da Capital. Na Santa Casa de Misericórdia, um dos locais designados para receber pacientes encaminhados pela instituição, foi registrado, ontem, um aumento de 20% na quantidade de atendimentos. Segundo o diretor da Emergência da entidade, Régis Miranda, isso foi reflexo direto da medida tomada no HGF.
Conforme o gestor, houve acúmulo de pessoas principalmente no setor de Observação, onde os pacientes aguardavam vagas para internação. Ele destacou que todas as alas da emergência ficaram superlotadas.
O diretor afirmou que, além dos pacientes remanejados pelo HGF, a Santa Casa recebeu pessoas que foram diretamente ao local após saberem da interrupção dos atendimentos. Para dar conta da grande demanda, que deve se manter nos próximos dias, Miranda afirmou que a entidade pensa em estratégias. "Uma das ideias é aumentar o número de profissionais trabalhando", frisa.
Espera
A qualidade dos atendimentos na Santa Casa ficou comprometida. Na entrada, muitas pessoas esperavam há horas. A dona de casa Edivânia Fernandes chegou às 6h30, mas por volta das 11h ainda aguardava ajuda médica. "Cheguei com princípio de infarto e, até agora, nada. Peguei a ficha de número quatro, mas parece que nem as três pessoas antes de mim foram atendidas", diz.
Segundo a aposentada Marina Sousa, também na fila de espera, o movimento de ambulâncias foi intenso. "Os recepcionistas até vieram aqui e disseram para a gente procurar atendimento em outro lugar".
Germano Ribeiro/ Vanessa Madeira
Repórteres
Fonte: Diário do Nordeste
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Fotos: Lucas Menezes/José Leomar/DN
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