Foto: Kelly Graf/Nature/DN |
Segundo os cientistas que “leram” seu genoma, o garoto tem semelhanças genéticas tanto com europeus quanto com os indígenas atuais. E a recíproca é verdadeira. Os pesquisadores calculam que a antiga população à qual o menino pertencia seria responsável por algo entre 15% e 40% da herança genética dos índios.
Esse povo misterioso teria se misturado a outro, oriundo do leste da Ásia, para dar origem aos habitantes do continente americano. Há décadas alguns antropólogos argumentam que o povoamento da América pode ter envolvido dois grupos geneticamente distintos. Uma das vozes mais importantes desse grupo é o brasileiro Walter Neves, do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos da USP.
O principal indício desse fato é a variedade no formato dos crânios dos mais antigos americanos, os paleoíndios -o exemplo mais famoso é “Luzia”, fóssil achado em Minas Gerais, com mais de 11 mil anos.
Segunda leva
Neves e seus colaboradores afirmam que o crânio de Luzia e de outros paleoíndios lembra mais o de aborígines australianos, melanésios e africanos do que o da maioria dos índios atuais, normalmente comparados a grupos do nordeste da Ásia.
A ideia é que a maioria dos ancestrais dos índios modernos teria integrado uma segunda leva migratória, que teria exterminado os paleoíndios ou se misturado a eles. “Nossos achados não apoiam diretamente o trabalho dos brasileiros”, disse Eske Willerslev, biólogo do Museu de História Natural da Dinamarca que coordenou o estudo, publicado na “Nature”.
“Parte do material genético da criança tem afinidades com grupos do sul da Ásia [região de origem dos paleoíndios, segundo Neves]. Então o artigo se alinha parcialmente à ideia deles.” Neves reagiu com cautela e ironia aos achados. “Eu podia estar comemorando, dizendo ‘olha, finalmente alguém fala de herança dual’. Mas vai depender da estabilidade dos trabalhos deles. Se os achados desse tipo continuarem, vou poder dizer que estive certo por 25 anos.”
Com informações: Folhapress.
Fonte: Diário do Nordeste
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