Foto: Jangadeiro. |
Ao escolher casar, os nubentes estão abdicando da vida de solteiros; é um sim para o casamento e um não para a solteirice. Quando seguimos uma carreira, estamos investindo em alguns talentos e abrindo mão de outros. Quando viajamos para algum lugar, estamos escolhendo sair e não escolhendo ficar onde estamos. E assim por diante, nas grandes como nas pequenas decisões. Mesmo que possamos ter muitas coisas, nunca é possível ter tudo.
Porém, nem sempre o que não foi escolhido pode ser facilmente esquecido. Muitas vezes a opção não assinalada permanece ativa como uma frustração. A energia que se gasta com uma frustração pode ser tão grande, que ficamos impedidos de seguir adiante, pois falta energia para viver.
Uma das consequências paralisantes da frustração é a inveja.
A pessoa invejosa geralmente acha que não teve escolha, que foi vítima do destino. Isso lhe dá muita raiva, porque considera injusto o destino dar aos outros o que lhe foi negado. Não pode ver alguém seguir o caminho que não seguiu, porque isto comprova que era um caminho possível. Então, como precisa acreditar que não teve outra opção, conclui que o outro teve sorte, trapaceou, mas nunca, jamais admite que ele teve qualquer mérito. O invejoso estagna no vitimismo. Não tem olhos para as escolhas que a vida lhe oferece, porque só olha as opções dos outros. E pensa que não está escolhendo, embora esteja, sim, escolhendo ficar parado.
Outra decorrência da frustração é a depressão. Isto porque, vira e mexe, a pessoa estagna na repetição de duas palavrinhas: “E se…”. Tais pessoas escolhem uma opção, mas não param de pensar na que não foi escolhida. Perdem-se em conjecturas sem fim, que jamais serão solucionadas, afinal de contas, mesmo que mudem de escolha, continuarão repetindo “e se…”: “E se eu tivesse feito isso antes?”, “E se eu não tivesse mudado de escolha?”. Sentem medo de fazer a escolha errada. Então vem a paralisia, que pode levar a vida toda.
A chamada crise dos quarenta anos é muitas vezes um problema de “e se”. A pessoa que já conquistou certa estabilidade, passa por uma desaceleração e pode pensar nas escolhas não feitas, ou seja, na vida não vivida. A esta altura é que muitos se perguntam: como seria ter vivido o que não vivi? Daí homens que passaram a juventude construindo uma carreira, ressuscitarem o galanteador que não escolheram antes. Daí mulheres tentarem resgatar a beleza que negligenciaram quando estavam se ocupando em construir um lar.
Contudo, os ponteiros do relógio não giram para trás. Não há como voltar no tempo. Não adianta querer enganar a si próprio. Frustração gera paralisia quando não somos capazes de assumir nossas escolhas e suas consequências. Para prosseguir vivendo, precisamos assumir que as escolhas sempre existiram, e que elas foram feitas, conscientemente ou não. E, o mais importante: precisamos olhar para as novas opções!
Esta é a base da filosofia existencialista. Precisamos olhar para o que está sendo oferecido aqui e agora, e fazer escolhas conscientes. Quanto mais conscientes forem as nossas escolhas, menos frustrações teremos. Mesmo que delas advenham dores (quem, no mundo, pode escapar ao sofrimento?), resta a consciência de que a vida permanece oferecendo opções, sempre. Não todas as opções ou as opções que desejaríamos, mas sempre algumas opções. E escolher uma delas é a forma de abrir um leque de novas possibilidades. Novos caminhos e novas escolhas podem estar sempre surgindo. Nada é definitivo.
Vida é movimento, é mudança, é correr riscos. Quem desejar viver sem riscos, sonha com o impossível. Medo de errar não tem sentido, porque não existem escolhas erradas. Tudo traz um resultado, um aprendizado que leva ao crescimento. Então, de certo modo, tudo dá certo, mesmo aquilo que aparentemente, não foi a melhor escolha.
Fonte: Tribuna do Ceará (Jangadeiro).
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